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Palavras Escritas na Água

Thiago de Mello


Não venho aqui de prefácio, quase sempre uma demão, que se dá ou que se pede para o vôo de um livro. Poesia não tem precisão dessas ajudas. Falo de poesia, poesia de mesmo. Como a de Etelvina Frota, cujas asas feitas de palavras escolhidas, com ciência e paciência, percorrem serenas e certeiras o caminho de silêncio sonoro para chegar, guiada pela inteligência, ao coração do leitor aberto para o milagre da poesia.
Escrevo estas palavras simples no entardecer de um lago dentro da Reserva Mamirauá, que realiza com amor e perseverança um sério, abnegado e belo trabalho a serviço da preservação da floresta amazônica e do seu povo. Escrevo como quem grava na pele da água, abrindo alas para a passagem de uma poesia cuja beleza nunca há de passar: o querido Keats já ensinou cantando que A Thing of a beauty is a joy forever.
Não escondo que escrevo comovido. Tocado por essa "alegria"que é uma espécie inefável de felicidade que só a beleza da arte pode dar. Quero me dizer agradecido pela felicidade que devo à invenção poética de Etelvina.


Pode ser que algum "escurista"(o neologismo é de Pablo Neruda), afeito a versos impenetráveis, se afaste dos poemas deste livro, estonteado pela meiga luz da sua transparência, que se oferece fácil, tanto a quem lida com teorias de criação artística, quanto ao leitor comum que ama o que é bom e bonito e nada mais.
Na verdade, a facilidade que em aparência se encontra no dizer de Etelvina é simplesmente a difícil simplicidade só conquistada com rigoroso trabalho. Dona de cadência musical, não só no verso metrificado, como também no verso livre e branco, que ela inventa ritmos e sonoridades.
De resto, já faz tempo aprendi que em matéria de poema, ou mesmo de prosa, escrever difícil é fácil já demais; difícil de verdade é escrever com simplicidade, é construir a metáfora cristalina e comovedora por muitas que sejam as suas faces.
Esta poeta de mão cheia só não foi feliz (digo por que sou dono dos meus limites) num poema que me dedica, de infinita delicadeza, que reconheço de armação trabalhosa. Mas a roupagem estrelada que ela me oferta é disconforme de tamanho, como diz a gente da minha floresta.
Tudo o que aqui fica dito não passa de um punhado de escamas esmaltadas, que recobrem a pele destas águas, para louvarem Etelvina Frota, paranaense que, debaixo das araucárias solenes, também ajuda, com sua vida e sua poesia, a preservar lindas e poderosas as riquezas amazônicas.

Mamirauá, comunidade de Jarauá
Setembro de 2001

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Artigo oitavo

Apresentação

O Livro
Prefácio
(por Thiago de Mello)
Poemas

O Disco
Encontro das Águas
(por Rodolfo Stroeter)
Roteiro do CD
Ficha Técnica do CD
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(por Etel Frota)

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Os Estatutos
do Homem

(obra que inspirou
o Artigo oitavo)

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